segunda-feira, 25 de abril de 2011

A questão Européia.


Acompanhei as últimas notícias sobre a polêmica da Burka, o trem com imigrantes barrados, a deportação dos ciganos na França, a vitória da direita na Finlândia e outros casos por aí. Mas não cheguei a nenhuma conclusão concreta sobre o assunto. Acho uma questão muito complicada o que está acontecendo na Europa. Nitidamente, é um sistema em crise, que começa a ruir, começando pelas suas bases e seus princípios mais básicos e humanistas. Pessoalmente, este quadro me deixa muito chateado. Por mais que os países europeus tenham sido muito canalhas na história, eu confesso que possuo uma simpatia pelo bloco. Já disse aqui que ainda sentiremos saudades da Europa e dos EUA, é só uma questão de tempo! Voltando ao assunto das crises em relação aos imigrantes na Europa; acho uma questão muito complicada de ser debatida, e muito simples e prática se debatida por nós, que não estamos inseridos ali no processo. É claro que as medidas tomadas - principalmente pelo Governo Francês -, e o rumo em que a maioria da população européia está acreditando ser a saída para estes problemas me assustam; vide o crescimento significante da Marine Le Pen, e a vitória expressiva do partido dos “verdadeiros finlandeses” na Finlândia. Se formos analisar, o que está em jogo neste processo todo é a “reafirmação” de quem são os verdadeiros habitantes tradicionais daqueles locais, visivelmente ameaçados por diversas outras culturas em sem próprio território, o que, para muitos, é inadmissível e intolerável. Ao pesquisar algumas notícias sobre a questão da migração muçulmana na França, por exemplo, tentei transplantar algumas situações para minha realidade aqui na Vila Madalena. Bem, me imaginei com dois vizinhos, casais muçulmanos, com as mulheres usando Burka. Imaginei-me entrando no elevador todos os dias e encontrando duas pessoas completamente desconectadas da nossa sociedade e dos nossos costumes, creio que não saberia os nomes, não poderia freqüentar a casa dos dois, e muito menos beber uma cerveja com o casal. Isso já me deixaria muito incomodado. Também imaginei uma enorme mesquita, na esquina da minha casa, para atender os novos moradores; e, como acontece em Marseille [FR], vamos supor que a mesquita seja pequena para tantos muçulmanos, e, na hora do culto, por volta das 17 horas, os muçulmanos que não conseguiram entrar na mesquita, estenderam seus tapetes nas calçadas e ruas para rezar. Eu também ficaria irritadíssimo com isso, como a maioria dos franceses ficaram. Em outra reportagem, uma professora de uma escola pública espanhola descreve como é difícil dar aula para filhos de imigrantes muçulmanos, pois a figura da mulher não é respeitada pela cultura muçulmana, elas são inferiores aos homens, e o aluno não admite ser ensinado por uma mulher. Na mesma reportagem, a professora alega que o problema não é a presença dos muçulmanos na região, mas sim, o conflito de culturas e uma busca de afirmação e imposição da cultura muçulmana na cultura ocidental. Ela também alega que se sente injustiçada e acha desequilibrado os direitos assegurados para todos, pois, ao pisar em um país muçulmano, um ocidental precisa seguir as duras regras religiosas do país, com riscos de apreensões se algumas regras forem burladas. Pois bem, é uma questão complicada, por um lado, a sociedade européia parece não conseguir, ou não admitir incorporar outras culturas, por outro, os costumes fundamentalistas são muito chocantes e invasivos para a comunidade local. Estão totalemnte desconectados. Por outro lado, fico pensando, por qual motivo estas pessoas deixam seus países de origem? Não me parece um movimento natural, todos tendemos em viver no nosso lugar origem. O que move estas pessoas são as melhores oportunidades? E como podemos privar o ser humano de almejar uma melhor qualidade de vida? De fugir de guerras, doenças, pobrezas, para ter uma melhor qualidade de vida? Seria um grande egoísmo, não? Pois bem, mas como dar assistência a esta massa de novos moradores e ainda absorver e suportar as diferentes culturas? Acho que esta é a grande questão. Ninguém quer perder os privilégios, e todos querem privilégios, mas nem todos podem ter privilégios, ou podem? Esta pergunta, não sei responder. É fato que estes imigrantes também giram a economia destes países, eles não estão sugando todos os fundos financeiros destes países “acolhedores” - como defendem alguns políticos mais conservadores-, eles injetam dinheiro na economia também. Para mim, esta parece mais uma crise para assegurar os direitos como cidadão nato do país, do que uma intolerância com as demais culturas. Porém, diferentemente do Brasil, onde as demais culturas geralmente são incorporadas aos nossos costumes, na Europa, sentimos um maior abismo entre as culturas, o que favorece e facilita a disseminação de atitudes discriminatórias, xenófobas, racistas,etc. A meu ver, a história mundial está iniciando uma nova parte. Acho curiosa esta situação em que a Europa se encontra atualmente, é como se o feitiço virasse contra o feiticeiro! Vale lembrar que a maioria desses muçulmanos, imigrantes africanos, etc; são oriundos de antigas colônias européias. Colônias estas que foram submetidas por décadas à invasão da cultura e das vontades políticas européias; colônias, que tiveram costumes e tradições dizimados pela “vanguardista cultura européia”. Falo que o mundo está mudado, pois a tal cultura vanguardista européia, não me parece tão vanguardista assim, ela regride e se fecha, assim como a Liberdade, igualdade e fraternidade, que, agora, já não é mais para todos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Hedoísmo sustentável


Que coisa mais chata essa onda eco-verde-sustentável-saudável que estamos presenciando atualmente! Daqui a pouco vou começar a jogar papel na rua, tomar dois banhos de banheira e fumar um maço de cigarro por dia, tô avisando! É tão ridícula a maneira como isso é colocado e tratado em nossa sociedade, que me deixa irritado! Bem, o que me irrita é: Primeiro, essas baboseiras não deveriam nem ser passadas pela mídia, já deveria nascer incorporado ao ser humano ou pelo menos, ser adquirida com alguma educação fornecida em casa - por acaso passa na Televisão como usar papel higiênico? Então, e todos sabem usar, não? Espero que sim! Qualquer pessoa sabe, ou deveria saber, que deve causar algum impacto jogar alguma coisa em um ambiente, é uma questão lógica: jogar um corpo estranho num ambiente que não possuía este corpo, no mínimo, deve causar algum impacto, pois agora este ambiente tem que absorver este corpo, não estava nos planos - é igual levar multa de trânsito no final do mês, sua conta bancária tem que absorver aquilo, mesmo não tendo condições, e isso pode causar alguns estragos. Segundo: A informação passada pela mídia é muito tacanha e superficial, simplista demais, e isto também me irrita! Já que vão passar esse tipo de informação, que seja de uma maneira completa e inteligente, realmente educativa, com fundamentos. Daí o que acontece: um eco-sustentável-babaca (geralmente esses caras de classe média alta com formação incompleta) acha que só por colocar uma borrachinha para parar de pingar a torneira do banheiro, PRONTO! Ele já salvou o planeta, resolveu todo o problema da água, é uma pessoa importantíssima para a salvação do mundo! Não que colocar uma borrachinha na torneira seja errado, não custa nada, o problema é achar que é só isso que tem que ser feito e que é só esse o problema. Isso é só a ponta do iceberg. Ah, já estava me esquecendo dos "completamente saudáveis e ecológicos", com alimentação correta e balanceada (eco-refeição) - geralmente estão no mesmo saco dos eco-chatos -, salvando o planeta e o corpinho! Eu, particularmente, adoro este clima de libidinagem e hedoísmo vendido na nova série de TV "Mad Men" - é uma luz no fim do túnel para mim. Bons tempos devem ter sido aqueles. É claro que muita coisa mudou, para o bem, no decorrer dos anos, não posso reclamar! Mas neste campo, o mundo atual está bem mais careta e chato! Essa busca desenfreada pela saúde e bem estar é um porre! Acho que isso é bem mais prejudicial para a saúde do que ser mais relax. Parece até que as pessoas querem ficar doentes para se tratarem. Não pode beber, não pode fumar, não pode trepar, não pode poluir; tem que ser politicamente, ambientalmente, ecologicamente correto! Sem falar nessa prepotência do Estado achar que sabe mais que a gente - o Estado é muito atrasado, não acompanha, nem absorve as transformações da sociedade. Ah, não que as pessoas não devem se cuidar, que tenham que tomar uma garrafa de Whisky, fumar um maço de cigarro e comer picanha todos os dias, não é isso... Mas de vez em quando, não há problema! Faz até bem se você quer saber!Pelo menos pra mim, não há coisa mais prazerosa do que sentar em um bar e comer e beber a vontade com amigos durante horas, sem culpa alguma! E se depender de mim, continuarei assim. Entre o politicamente correto e a Luxúria e embriaguez, fico com a segunda opção!

"Green" Buildings?


É impossível um arranha céu ser um "green building". Pensando nisso, lembrei do folclórico Friedrich Hundertwasser e seus "projetos orgânicos" , que, para mim, representam o que em tese seria mais parecido com um green building, pelo menos na minha imaginação. Creio que as técnicas "antigas" jamais devem ser descartadas, tudo partiu delas, e novas coisas são boladas a partir delas. Se não estou enganado, as técnicas de utilização de madeira são as mesmas a mais de 100 anos. Voltando aos "Green Buildings", concordo que existam prédios e construções "sustentáveis" no mundo consciente inteiro e que haja arquitetos e urbanistas trabalhando nisso, mas isso é o que menos me importa.O que quero discutir é: como essa idéia, vendida como a salvação e o mais correto a ser feito no mundo civilizado - excluindo os outros tipos de construções 'não verdes' , a favor do meio ambiente, contra o aquecimento global e todas essas chatices - se tornou o novo produto do marketing, principalmente do marketing imobiliário. Certo, não descarto que existam projetos e empreendimentos super interessantes nesta nova forma de pensar o espaço, porém, não venha me dizer que, atualmente, este tipo de construção causa menos impacto no ambiente do que as outras. Pode até economizar um pouco mais de energia, devido as placas solares, a melhor circulação do ar no ambiente interno - que diminui a utilização de aparelhos de refrigeração de ar-, economizar água, com o reaproveitamento da água pluvial nas descargas e na irrigação do jardim, etc. Mas, a forma de construção, os materiais, o concreto, são os mesmos dos prédios 'não verdes', a forma de produção desses materiais são as mesmas, poluindo do mesmo jeito. É tudo uma fachada, vende-se a idéia de construção "amiga" do meio ambiente de um lado, e continua comprometendo o ambiente do outro. Desculpe, em meu simplório pensamento, não consigo assemelhar isto a uma construção verde, é só outra forma de pensar o espaço e ambiente, menos burra, digamos assim, mas a essência é a mesma. Acredito que ainda não temos tecnologia suficiente para construir um 'Grenn Building'; atualmente, são todos protótipos."

O "feeling" do bem estar social






É um movimento mundial essa crise de transmissão e formação dos valores humanos? Não estou me referindo à formação acadêmica, e sim, a formação básica do ser humano, como um ser altruísta, amoroso, que pensa no próximo, que escuta mais e fala menos, que entende e respeita as diferenças, que não invade o espaço do outro, sabe? É como se fosse um "feeling" do bem estar na vida em sociedade. Começamos a perder esta sensibilidade humana com o início da urbanização e pela substituição dos "Deuses naturais" pelos "Deuses Celestiais", há muito tempo. Mumford já disse que, "Posta diante das complexidades da vida comunitária, em grandes dimensões (cidade), a audácia individualista era (é) mais viável do que as lentas reações comunais". Bem, o que quero discutir é: Já é muito difícil gerenciar uma sociedade em um território (tomando por base o lugar do Estado administrando uma sociedade), imagine só, você ter que, além de administrar a sua complexa sociedade, ter que absorver dilemas, problemas, lacunas, cultura, costumes de outras sociedades, que nada tem a ver com a formação da sua, num mesmo território. Vocês poderiam até pensar, "bem, mas agora esta outra sociedade se integrou a sociedade "principal" , esta ajudando a construir uma única sociedade". Não quando se trata dos fundamentalistas. Veja o caso da França: A França é um país muito bacana - socialmente falando - , a Revolução Francesa já nos mostra a formação diferenciada que eles possuem. Atualmente, os franceses enfrentam um enorme problema social com os imigrantes muçulmanos. Quando falei do "feeling" do bem estar social, estava me referindo a isto, é óbvio que um muçulmano jamais teria uma formação como esta - salvas exceções - , o que implica em uma situação que está extrapolando os limites da boa convivência no país. A França tenta proibir o uso de Véu Islâmico em locais públicos, além de outros símbolos religiosos - menos os católicos, pois é a religião base da formação francesa - o que eu acho corretíssimo, pois é chocante para a sociedade não-islâmica presenciar uma mulher toda coberta, usando a burca, somente com os olhos para fora. Em Marseille, onde a presença muçulmana é fortíssima, é impossível andar nas ruas no horário de reza, os religiosos estendem tapetes, panos, lenços, no meio da rua, calçadas e começam a rezar, e ninguém passa. Em outro caso, em uma cidade ao sul da França, chegaram 20.000 imigrantes Africanos - muçulmanos. Como o Estado Francês pode dar conta disso? Há também problemas nas escolas públicas, onde os alunos muçulmanos não aceitam a autoridade de uma professora na sala de aula - pois a mulher não tem autoridade para mandar em um homem- , sem falar em uma das tradições mais bárbaras e cruéis que existe, - principalmente na cultura Africana - , de mutilação genial feminina. Por sorte (e bom senso) o Estado Francês promulgou uma lei que caracteriza como crime a prática de mutilação genital em território Francês. A coisa chegou a tal ponto, que foi cogitado pela comunidade islâmica colocar no calendário oficial francês os feriados sagrados. Pera lá, se uma pessoa se sujeitou a viver em um outro país - o qual não seja o da sua origem - , como a França, por exemplo, que possui uma tradição católica e um estado democrático e muito bem resolvido, que incorpore os costumes do país ou fique na sua; agora, vir morar em outro país e ainda querer impor seus costumes à sociedade? É muita falta de noção (de mundo, de espaço, de convivência, de história, de geografia, de vivência, etc), então fique em seu país. Eu não acho que isso seja preconceito, para a sociedade francesa, o problema não são os muçulmanos, eles podem permanecer no território francês tranquilamente, o problema é transplantar a cultura de um país para outro. É fato que o preconceito existe, desrespeitar, espancar e discriminar uma pessoa simplesmente pelo fato dela ser muçulmana é um preconceito, mas não creio que estabelecer regras e ordens para tentar evitar ao máximo a xenofobia, os conflitos de culturas e estabelecer o bem estar de seu cidadão nato seja preconceito, é o papel do Estado defender as suas origens e a sua sociedade. Por outro lado, se você for a alguns países árabes, você tem que seguir as tradições locais, mesmo uma mulher não islâmica tem que usar a burca, os homossexuais tem que fingir que não são homossexuais e assim vai... Pode aparecer até ambíguo meu argumento, de respeito às diferenças, mas de ódio aos fundamentalistas... Realmente, soa estranho mesmo, até parece algo demagogo, mas neste caso não tem jeito mesmo, é demais para eu conseguir respeitar, minha ideologia de vida não me permite respeitá-los. Apenas os suporto.

Civilizado e incivilizado?




No início da década de 60, o mundo capitalista sofreu transformações relevantes com a dispersão das atividades econômicas que se voltaram também para os países do terceiro mundo, caracterizando um desmantelamento de antigos centros de poder localizados em países de primeiro mundo. Este processo se concretizou com o avanço da informática e das telecomunicações que incorporou uma multiplicidade de centros financeiros em uma rede mundial de transações. O crescente interesse pelo tema agrário e pelo desenvolvimento industrial na Geografia se dá nesta época e só realça a motivação pela abordagem da Geografia Humana, especialmente pelos chamados estudos da população.
O presente ensaio tem como objetivo comparar as reflexões de dois autores da área de Geografia Humana sobre a dicotomia rural-urbano. O primeiro trabalho a ser considerado é o do geógrafo francês Pierre George, que enfatizou nos seus estudos as questões ligadas à indústria, às cidades, ao comércio, aos transportes, ao consumo e seus impactos na sociedade, estabelecendo relações significativas entre a indústria e a agricultura. Há que se lembrar que, em geral a Geografia econômica/clássica privilegiava o estudo da agricultura em detrimento ao da indústria. Este autor mostra que a indústria é o setor que comanda a vida econômica moderna, dando maior ênfase ao seu estudo e colocando em segundo plano o da agricultura. Pierre George considera a Geografia como uma “ciência que estuda a dinâmica do espaço humanizado”. Parte do princípio de que os fenômenos estudados pela Geografia devem ser apreendidos “em suas relações com a presença e a ação das coletividades humanas”.
Um primeiro olhar sobre o ponto de vista de George pode dar a entender que o autor não focaliza, nos seus estudos, os chamados espaços não humanizados do globo. Porém, um olhar mais detido sobre sua teoria revela que não é exatamente assim. Tomemos, primeiramente, o conceito de espaço humanizado que, para este autor equivale à noção de ecúmeno, usada por Max Sorre. Ecúmenos seriam áreas da Terra ocupadas pela ação humana. Para George os espaços humanizados possuem fronteiras imprecisas, já que o espaço se coloca como plano através do qual o tempo se efetiva. É importante notar que, desta forma, já naquela época, o autor detectou o fenômeno da ausência de delimitação clara entre rural e urbano, ainda que os conceba como espaços diferenciados.
Em segundo lugar, para George, a história do homem é marcada por incontáveis experiências de penetração e conquista de espaços que outrora pareciam inacessíveis e “vetados” pela natureza. Assim, a Geografia deve ter uma intervenção no sentido de desenvolver a região, ou seja, os espaços naturais, que ele considera “atrasados”, devem ser civilizados. É neste contexto de domínio da natureza pelo homem que entra a questão da técnica. Segundo George, as técnicas criam tanto a necessidade de penetração e instalação nesses espaços, quanto os meios para realizar essa apropriação. Como se vê, a lógica que move a análise de Pierre George é a concepção de civilização e civilizatório, a diferença entre civilizado e incivilizado.
Em que pese o fato de que George tenha produzido suas reflexões na década de 60 - quando o desenvolvimento urbano era mais incipiente, a industrialização tomava novos rumos, produzindo impactos na sociedade – é interessante examinar suas idéias considerando o atual cenário de um mundo globalizado.
O que deve ser destacado é o fato de que a dicotomia civilizado e incivilizado de George conduz a um problema que é o de ver como necessariamente positiva a idéia de civilização, a noção de que o “atrasado” é o que precisa modernizar-se, por ser considerado “moralmente inferior” ao moderno. Em outras palavras, o que ele está dizendo é que o natural é atrasado e deve ser incorporado ao âmbito do que é civilização. De fato, para George, o tempo da modernização necessariamente é o tempo da industrialização e sem o desenvolvimento da indústria é impossível modernizar e melhorar a agricultura. Sendo assim, o urbano é associado ao moderno e as áreas não urbanas (como a zona rural, por exemplo) são vistas como não modernas.
É inegável que há aí uma distinção que poderia ser entendida como preconceituosa, justificada por uma perspectiva de um juízo moral: o urbano, o moderno é visto como algo essencialmente bom e civilizado; já o rural, o atrasado como algo negativo, que necessita ser modernizado.
Vamos agora nos debruçar sobre o estudo de uma autora que produziu sua obra mais recentemente. Trata- se de Lecione (2003), para quem a clássica relação cidade-campo está ultrapassada atualmente, devido aos novos fenômenos do mundo globalizado, com intensificação do capital nas atividades agrícolas. Segundo Lecione, atualmente, “o processo de urbanização do espaço imprime ao território características que até então eram exclusivas da zona urbana”, ou seja, ele não se restringe às zonas urbanas, atinge todas as áreas, em maior ou menor escala.
Apesar de serem escritas em diferentes épocas, as análises de George e Lecione partilham do mesmo ponto de vista no que diz respeito aos espaços humanizados: eles possuem fronteiras imprecisas. Por outro lado, não se pode dizer que concordem totalmente. George revela uma concepção que poderia ser considerada preconceituosa ao classificar o espaço rural como algo atrasado, que necessita ser modernizado e defender que os problemas do moderno sejam superados pelo próprio moderno. Já Lecione, embora assuma a imprecisão das fronteiras entre rural e urbano, realiza uma crítica ao processo de modernização do espaço rural, na medida em que ele acarreta a destruição não só das práticas sociais, mas das identidades dos lugares, que ficam sujeitos aos códigos do urbano.
Confrontando as duas análises, percebemos que George atrela-se, quase que totalmente, ao contexto econômico do processo, desconsiderando o lado social e humano no processo de modernização dos espaços. Ao contrário de Lecione, que se preocupa com a perda de identidade dos lugares, a história e a origem das pessoas, destruídas pelo processo de modernização.
Do meu ponto de vista, penso que cabe perguntar até que ponto um território é considerado modernizado ou “atrasado” atualmente, quando se considera o crescente aumento do acesso às técnicas e à tecnologia. Não é incomum hoje em dia que os habitantes da zona rural tenham acesso à tecnologia, sem abandonar, entretanto, o cotidiano de uma vida rural. Por outro lado, Lecione lembra que nos territórios considerados modernizados há fragmentos de territórios não modernizados, já que nem todos tem acesso às tecnologias.
Cabe ressaltar que Pierre George foi um dos primeiros autores a perceber que a modernização do espaço – que Lecione chama de globalização do espaço - é produtora de raridades e de escassez. Ele cita como exemplo o próprio espaço, que passa a ser objeto de especulação nos centros urbanos. Parece que a condição financeira é a porta de entrada para o acesso às técnicas e ao espaço atualmente, independentemente do território ser modernizado ou não modernizado, e que é possível modernizar-se, sem descaracterizar-se, apesar das dificuldades e do movimento de massificação dos valores na sociedade como um todo.
Para finalizar, é importante ressaltar que Pierre George é uma das principais influências do pensamento geográfico contemporâneo, inclusive no Brasil, país cujos efeitos da rápida modernização - que o inseriu no espaço global da civilização industrial - incluem os desequilíbrios urbanos e os problemas ambientais.

Origens das formações sociais Latino-Americanas



Os recursos naturais e humanos das Américas tiveram um papel fundamental no processo de conquista e colonização, definindo os rumos da organização e apropriação dos territórios que corresponderiam, mais tarde, ao Brasil e às nações hispano-americanas. Para estabelecerem suas colônias, Portugal e Espanha tiveram várias dificuldades em função da distância Europa-América, das condições oferecidas pelo território americano, da escassez de informações, já que estas eram fornecidas somente pelos viajantes etc. Isso tudo criou dificuldade para implantar na América produções rentáveis à Coroa. O processo que então se inicia é repleto de particularidades temporais e espaciais que atuam decisivamente na forma de apropriação das terras descobertas, onde, a partir de um espaço natural e de populações nativas, começa a construção de um novo espaço social, determinado também pela complexa conjuntura européia e, em particular, a ibérica.
As Coroas Ibéricas, por sua vez, possuíam também especificidades: a mesma etnia deu origem a duas nações, Portugal e Espanha, nações histórica e geograficamente muito próximas. Portugal, já desde o século XII, apresentava-se como um reino unificado, portanto, um país de precoce consolidação do Estado. Em função da proximidade, os limites com os reinos espanhóis vizinhos estavam também claramente definidos, o que impossibilitava a expansão territorial, restando aos portugueses, como alternativa, apenas a expansão marítima, o que ajuda a compreender as iniciativas que fizeram deles os precursores nas descobertas marítimas.
Na Espanha, porém, apenas começava a se esboçar uma centralização administrativa com a união dos reis Fernando e Isabel. No mesmo ano em que os espanhóis descobrem a América, 1492, eles conseguem expulsar os mouros de seu território. Com isso, em linhas gerais, existe uma diferenciação na formação social da Espanha e de Portugal, duas nações que, embora muito próximas, apresentam características próprias na trajetória histórica. Há, portanto, especificidades que as diferenciam, apesar de estarem ambas localizadas na Península Ibérica e registrarem vários pontos comuns ao longo de sua história.
A realidade americana com a qual os povos ibéricos se defrontam é bastante variada e diversa daquela vista na Europa. Apesar das raízes ibéricas comuns, as grandes diferenças entre o Brasil e os demais países americanos, no que diz respeito aos aspectos internos – como na política colonial a ser implementada pelas duas metrópoles - já podem ser percebidas desde a época do Descobrimento. Nas colônias hispano-americanas as condições são distintas, quer do ponto de vista da população ameríndia, quer do quadro natural
O espaço colonial sofre as determinações das metrópoles, as quais, por sua vez, serão modeladas por uma realidade concreta, e por um conjunto de formas e elementos que as terras americanas vão apresentar como suporte para a edificação das novas sociedades. A economia e a sociedade dos futuros países da América Latina começam a se organizar voltadas para fora, atendendo aos interesses mercantis europeus, partindo, entretanto, de bases naturais e humanas distintas. No espaço americano, a distribuição dos vários elementos naturais e humanos, combinada às determinações ditadas pelos povos conquistadores, serão responsáveis pela gênese e evolução das formações coloniais.

Formações sociais latino-americanas

A gênese das formações sociais latino-americanas inicia-se no final do século XV e início do século XVI. Assim, diante das características próprias do imenso território colonial, foram implementadas condições infra-estruturais para que aqui se desse uma produção que satisfizesse os interesses das metrópoles. Este processo, que se estende do século XVI ao XIX, vincula-se à dinâmica econômica interna dos interesses das coroas ibéricas. O caráter complementar e periférico da economia colonial, voltada aos interesses das metrópoles ibéricas, inseria-se no contexto europeu da época, quando, no declínio do feudalismo, começam a surgir novas relações de produção que darão origem ao capitalismo.
Antes dos portugueses chegarem às terras que hoje correspondem ao Brasil, os espanhóis já haviam chegado à América Central. Nas terras que depois viriam a constituir as colônias espanholas havia uma maior heterogeneidade do ponto de vista natural e humano, pois apresentavam áreas de maior densidade demográfica e povos em estágios de civilização mais avançados. No Brasil, em contrapartida, havia uma relativa homogeneidade física, porém os índios que aqui viviam, além de nômades ou semi-nômades, encontravam-se num estágio primitivo de civilização, apresentando também áreas sem presença humana.
No continente americano também existe uma grande diversidade regional. As terras que hoje correspondem ao Brasil apresentavam características naturais e humanas mais homogêneas que influenciam os rumos da formação social brasileira As formações coloniais não são somente uma conseqüência direta das ordens emanadas pela Coroa, o Brasil – assim como o restante da América Latina. As especificidades, isto é, as forças endógenas que atuam no processo de evolução das formações nacionais latino-americanas, são recheados de particularidades.
Na América espanhola havia maior densidade demográfica representada por povos sedentarizados em estágio mais avançado de civilização. Por isso puderam, logo de início, os colonizadores puderam estabelecer com estes grupos indígenas relações feudais de produção visto que eles se encontravam em condições de serem imediatamente submetidos à condição de servos do reino de Castela. Nas áreas ocupadas por estas nações ameríndias – sobretudo astecas (no México) e incas (no Peru), foram logo encontrados os recursos naturais mais cobiçados: os metais preciosos. Os conquistadores espanhóis se apropriaram imediatamente do que era produzido nestas áreas, transformando os habitantes destas áreas em servos da Coroa.
No caso do Brasil, entretanto, as condições não eram as mesmas, já que apenas era possível apoderar-se da própria terra. Dessa forma, os portugueses, pioneiros na arte da navegação, tiveram que se tornar pioneiros também na implantação das atividades produtivas nas terras tropicais de sua colônia americana, o futuro do Brasil. Diante das dificuldades de utilizar a mão-de-obra indígena - pois os índios eram ainda nômades - introduziu-se no Brasil, como mão-de-obra, os escravos trazidos do continente africano.
Reside aí mais uma diferenciação entre a colonização portuguesa e a espanhola, visto que, em função da sua longa trajetória na busca de novas terras, Portugal tivera em contato com outros povos, entre os quais os negros da África, introduzidos como mão-de-obra nas grandes propriedades monocultoras. A partir do trabalho forçado a que os escravos africanos são submetidos, o modo de produção escravista se torna dominante no interior das fazendas. É assim que começa a ser estruturada a organização produtiva da colônia.
O Tratado de Tordesilhas torna os reis de Portugal e da Espanha senhores absolutos das terras que viriam a constituir o Brasil e os demais países da América Latina. No caso específico do Brasil-Colônia, o rei de Portugal é o senhor das terras, antes mesmo do seu descobrimento. Em 1532, toma a iniciativa de dividir o seu vasto território em Capitanias Hereditárias. Os capitães donatários tornam-se seus vassalos e dele recebem permissão para doar parte das terras em sesmarias àqueles que pudessem explorá-las, criando, assim, uma hierarquia feudal. Esta situação se estende por todo o período colonial, durante o qual dominam, no pólo interno, relações escravistas, e, no pólo externo, relações feudais, mantidas por esses senhores de terras e de escravos com a Coroa portuguesa.
Esta realidade começa a se modificar no final do século XVIII, início do século XIX. Neste período histórico que precede a independência das colônias, observa-se uma diferenciação entre a colônia portuguesa e espanhola. No caso de Portugal, o rei vem para o Brasil com toda a Corte, estratégia que evita a submissão da Coroa portuguesa às tropas de Napoleão Bonaparte. Já no caso da Espanha, o rei se vê forçado a se render, assinando a rendição de Bayona. No caso brasileiro, a transferência da família portuguesa para o território colonial começa a preparar o Brasil para a Proclamação da Independência, criando uma infra-estrutura administrativa e melhorias que aceleram o processo de internalização do capital comercial, já iniciado no final do século XVIII. Isto significa dizer que o capital comercial, até então concentrado nas mãos dos portugueses, começa, gradativamente, a se transferir para as mãos de brasileiros. A internalização do capital comercial brasileiro vai se fazendo paulatinamente e, em 1822, com a Independência, o capital mercantil português é substituído pelo nacional, situação esta que se repete nos países hispano-americanos que também se tornam independentes. No caso brasileiro, além dos maiores comerciantes de escravos já serem brasileiros, a interiorização do capital comercial é estimulada pela descoberta, no final do século XVII, das primeiras minas de ouro em Minas Gerais. O chamado ciclo do ouro intensifica a circulação interna, com base nas tropas de mulas e no transporte de gado em pé, levado das áreas de pecuária (sertão Nordestino e Rio Grande do Sul ) para as áreas de mineração.
No momento da Independência, o Brasil apresenta, internamente, relações escravistas de produção, ao mesmo tempo em que, gradativamente, se internaliza o capital comercial. No plano externo, a intermediação do capital comercial português é dispensada, porque o país já podia se relacionar diretamente com o capital industrial do centro mais dinâmico do sistema - a Inglaterra - sem a intermediação da Coroa portuguesa, situação idêntica a que ocorre também nas ex-colônias espanholas que vão se tornando independentes.
A partir de 1790, o sistema capitalista mundial apresentou períodos de expansão e períodos depressivos. No período depressivo, as ex-colônias foram forçadas a se adaptarem à nova conjuntura mundial, fato que gerou rupturas internas responsáveis por alterações nos pactos de poder mantidos pelas classes dominantes. É importante ressaltar a influência que a conjuntura internacional exerceu sobre a economia das nações periféricas, que reagiram de acordo com a evolução de suas forças produtivas. Se, nos períodos de expansão, os países latinos acabavam se inserindo de forma dinâmica numa nova divisão internacional do trabalho, nos períodos depressivos reagem também positivamente, com um dinamismo próprio, substituindo importações e intensificando a produção nacional. Com a Abolição da Escravidão, na maioria dos países americanos, esta força produtiva representada pelos escravos, cujo trabalho se fazia de forma compulsória, ao dar início à substituição de importações, já preparava a instalação do regime republicano. As grandes fazendas escravistas tornam-se, então, latifúndios, consolidando também, em cada estado, a hegemonia política de uma oligarquia agrária, que permanece até o século XXI, na maioria dos países, extremamente influente nas questões políticas.
Comparando as nações coloniais espanholas e a portuguesa é possível definir o modo de produção escravista como um dos elementos responsáveis pela preservação da unidade da colônia portuguesa, já que o escravo circulava por todo o território e era utilizado igualmente como mão-de-obra em todas as regiões do país, o que significa dizer que a escravidão era um fenômeno nacional, isto é, espalhava-se por todo o território brasileiro.
Já na América espanhola, onde, desde o início da colonização, o modo de produção feudal havia dominado, ocorre, com a independência, uma fragmentação do território, que dá origem a vários países, enquanto no Brasil, onde dominou o modo de produção escravista, a unidade territorial é preservada. Em outras palavras, as relações dominantes desde o descobrimento nas áreas mais povoadas e desenvolvidas da América espanhola são resultado da formação de várias nações, enquanto que, no Brasil, o predomínio da escravidão, de grandes propriedades subordinadas à Coroa e da Proclamação da República permite a configuração de uma nação não fragmentada.
Há também que se considerar as diferenças nos processos de independência dos países da América Latina: com exceção do Haiti e do Brasil – onde o processo se deu de forma diferenciada - nos demais países, tal processo foi produzido por uma elite criola (descendentes de europeus nascidos na América) que queria ser como os europeus, ajudada principalmente pelos estadunidenses, com sede imperialistas. A elite criola produz uma identidade própria, latina, baseada na mistura de raças. O mito da mestiçagem é, portanto, um produto/artifício de uma elite criola que lutava para afirmar sua inclusão no projeto de civilização européia, fenômeno mais recente do século XVIII e XIX. A parte mestiça da população se dizia branca, ao se comparar com o resto da população de índios, negros e caboclos, ressaltando o elemento europeu como dominante. Assim, surge a idéia de “América Latina”, uma invenção francesa para fazer frente ao projeto imperialista anglo-saxão Esse é o legado da dupla consciência nativa branca à consciência nacional, que negava a Europa sem negar a europeidde.
O processo de formação dos países latinos, por meio das guerras de independências, já revelava o caráter de colonialismo interno que marca nossos países até hoje. Grande parte da população que participou ativamente das lutas anticolonialistas, sacrificando suas vidas muitas vezes, foi alijada no momento posterior de condução dos rumos da nação (principalmente indígenas, negros e trabalhadores livres pobres). Como conseqüência dessa característica autoritária de nossas elites, temos o fenômeno do caudilhismo e do coronelismo, comuns aos diferentes países, guardadas as devidas particularidades.
As lutas por independência nos países latino-americanos, embora analisadas em conjunto, tiveram grandes diferenças entre si. Em tais processos políticos, evidencia-se uma duplicidade de consciência criola: uma consciência criola branca, anglo-saxã ou ibérica e uma consciência criola negra, herdeira da escravidão, que comporta a diversidade dos imaginários criolo, ameríndio e afro-americano.

Considerações Finais

A herança anticolonial, anti-imperialista, antiautoritária, está presente através de diversos e específicos conflitos sociais. A ação de determinados movimentos sociais faz parte dessa contínua luta contra a colonialidade: as diferentes lutas por direitos humanos, os movimentos indígenas e camponeses, os protestos contra bases estrangeiras e os conflitos em torno da apropriação dos recursos naturais.
Uma das bases da Modernidade européia, os direitos humanos, são questões inexistentes para diferentes gerações de latino-americanos que sofrem com a discriminação étnica, racial ou classista, com as marcas da violência de um Estado autoritário ou com o tratamento inferior ao cidadão de baixa renda. Os direitos dos povos nativos e o acesso à terra também remontam à história de formação dos países. A própria geografia urbana de nossos países “subdesenvolvidos” reflete o quadro geral do sistema: a imensa maioria pobre concentrada nas periferias das grandes metrópoles, com ilhas de primeiro-mundo, para as classes mais favorecidas.
O tema das bases militares estrangeiras não se restringe aos países que as abrigam (como Argentina, Colômbia, Cuba, México, Panamá e Porto Rico) e tem sido alvo de protestos no conjunto dos países tendo, inclusive, um caráter anti-imperialista. Podemos citar também a “fragilidade” e importância da América Central e do Caribe.
Analisando o quadro dos conflitos ocorridos apenas no ano de 2001, podemos notar como o contexto sócio-político que, segundo Quijano, emerge nos anos 90 (e dura até hoje), reflete-se concretamente nas lutas sociais do continente como um todo. Consideradas as devidas diferenças conjunturais, a geografia dos conflitos na América Latina e Caribe nos revela a crescente polarização social da população, notada a partir da grande incidência das lutas por maiores salários, emprego e condições melhores de trabalho, evidenciando a crescente contradição capital-trabalho. O mesmo ocorre em relação aos processos de privatização do Estado e de deslegitimação do neoliberalismo que provocam um grande número de mobilizações contra as políticas de ajuste estrutural – resultando, por exemplo, na crise argentina de dezembro de 2001 - e que já estavam sendo rechaçadas em todos os outros países pesquisados.
Por outro lado, ocorreu a emergência de um novo protagonismo social, com a grande participação de camponeses e indígenas, assim como de aposentados que, classicamente, não são considerados como os principais sujeitos das lutas sociais. Para além da contradição capital-trabalho, o contexto atual de luta no continente nos revela as profundas marcas da modernidade, vivida por nós no seu lado negado, colonial.
As relações entre a atual conjuntura dos conflitos e nossa herança moderno-colonial vão além desses exemplos indicados. Mas nossos primeiros esforços em esboçar uma análise da geografia política do continente indicam as inúmeras correlações que podemos estabelecer entre os estudos pós-colonialistas e uma perspectiva epistemológica.

terça-feira, 1 de junho de 2010

El Lissitzky



El Lissitzky, nasceu no ano de 1890 em Polshinok (Rússia), fez parte da vanguarda russa dos anos 20 e 30, e foi uma das maiores influências da Bahaus e dos contrutivistas. O considero como uma das figuras mais importantes para a História da Tipografia, da arquitetura e do movimento construvista¹ no mundo, sem falar em sua contribuição para geografia urbana, muito importante para compreensão do espaço urbano. Apesar de seu enorme talento - era artista plástico, designer gráfico, fotógrafo, típógrafo, arquiteto e docente - é um profissional pouco conhecido e reconhecido atualmente.
Assim como Grete Stern, El Lissitzky utilizava técnicas de fotomontagem e buscava novas formas de utilização da tipografia. A foto acima, um dos seus mais magníficos trabalhos utilizando a fotomontagem, é considerada como o seu " mais colossal absurdo". Segundo Nadine Nieszawer - especialista da "Escola de Paris"- , neste trabalho, a imagem de Lissitzky é inserida num contexto de objetos que contemplam a sua identidade, a sua figura emerge de um fundo de papel milimétrico, utilizado por engenheiros e arquitetos. O compasso que sai do seu olho, segurado pela sua mão, simboliza o estatuto do artista como arquiteto, cuja criação racional da forma resulta numa organização do espaço. As letras "XYZ" são o timbre do seu papel de carta.
Em seus quadros, Lissitzky introduziu a impressão de espaço absoluto² e uma concepção tridimencional, desempenhando um papel significativo na transfêrência de duas dimensões para o suprematismo³ tridimencional e arquitetura.
No âmbito do Design, Lissitzky uniu abstração geométrica com funcionalismo, pregava que as palavras impressas são para ser vistas, não ouvidas e que uma sequência de páginas pode fazer um livro se tornar um filme. Lissitzky fez o designer pensar num contexto conexo entre as páginas, criando a base para o estudo de diagramação e design.

¹movimento artístico que preconiza a integração entre as técnicas artesanais e a produção industrial, propõe o uso de materias modernos, como o concreto, o vidro, o aço.

²Para Newton: " O espaço e o tempo não constituem mais do que um palco imutável e indiferente, um reticulado perfeito e estático, onde os acontecimentos iriam ter lugar. O espaço absoluto, em sua própria natureza, sem relação com qualquer coisa externa, permanece sempre similar e imóvel".
- Para El Lissitzky e Van Doesburg: " A geometria não-euclidiana trouxe a noção de tempo para o espaço, tem-se agora o espaço-tempo, um espaço que contém o tempo na pintura, escultura e arquitetura. A noção de espaço-tempo surgiu quando os postulados de Euclides foram transferidos para a superfície de uma esfera. As paralelas que nunca se encontravam na superfície plana, na esférica de encontravam. O que antes pendia para o infinito pendeu para o finito, por isso passível de ser medido, pois teria um começo e um fim, ou seja, teria um tempo. Para desenhar essa nova geometria, Van Doesburg fez uso da perspectiva isométrica de Lissitzky".

³primeiro movimento radical de abstração geométrica, criado em Moscou pelo pintor Kazimir Melevitch (1872-1935), caracterizado pelo emprego de cores puras sobre o fundo branco e arranjos nao objetivos de figuras geométricas simples.